terça-feira, 15 de julho de 2008

Juros ou como o sapato apertado cria calo

Logo de cara quero deixar bem claro, não sou contra os juros, mas não aceito a agiotagem, ou seja, se você tem algum dinheiro e empresta, acho justo que ganhe alguma remuneração por este empréstimo, já que você "poupou" ou guardou de alguma forma seu capital, para horas difíceis, ou aquisição de algo de maior valor e tendo que repassar parte desta quantia, para alguém que não teve a mesma atitude precavida ou que gastou mais do que recebeu, recebendo quem emprestou, alguma forma de compensação, os juros, por ocasião do pagamento, ou amortização da dívida.
Assim é em pequena escala como em grande escala, na sua vida pessoal, na sua empresa ou nas contas nacionais, se você gasta mais do que recebe, ou eventualmente passa por algum aperto, tem que "pegar emprestado", seja com algum tio rico ou com os bancos, pois com estes últimos é que começa a doer o calo, criado por um sapato apertado, usado por tempo em demasia. Como dito por "Bob Fields", o crédito é a mais diabólica das invenções humanas e os governos assim que aprendem meios e modos de arranjar dinheiro emprestado, não param mais, variando apenas o grau de descontrole. Mas ao chegar na última estação, quem paga a passagem do trem?
Vejamos a conta simples, nos últimos 06 anos de governo Lula, as exportações cresceram de 70 para 140 bilhões e as importações de 68 para 100 bilhões (dólares, sempre dólares), rapidamente vemos que estamos "recebendo" mais do que "pagando" 40 bilhões, a diferença entre as exportações e as importações, a isso damos o nome de superávit. Mas o que fazemos com ele? Este valor, seria como receber um salário de 1400 (reais, para nós mortais) e tendo uma despesa de 1000 (aluguel, escola, farmácia, etc.), sobraria no fim do mês 400, uma beleza, pois com essa sobra poderíamos "investir" em algum curso, gastar um pouco com lazer, ou seja, faríamos o que quisesse com esta "sobra". Mas se já tivéssemos além das nossas despesas mensais, um saldo negativo no banco, um valor que já viéssemos "arrastando" de longa data, pagando juros em cima de juros? Não poderíamos destinar NADA desta dita sobra, para nada além de pagar estes juros. Pois bem (mal), hoje, temos uma dívida interna de 1 trilhão e 150 bilhões (reais), tendo no Diário Oficial de 30 de junho, o secretário do Tesouro, Sr. Fábio de Brasil Camargo, ao apresentar o balanço financeiro mensal do governo, revelado que a estimativa de gastos com juros, este ano, é de 152,2 bilhões de reais, ao câmbio atual são 92,2 bilhões de dólares. Fácil observar, que da nossa "sobra" inicial de 40 bi, já temos que "pagar" mais que 90 bi. Se antes tínhamos a ilusão que estava sobrando, graças a dívida antiga e aos juros, já está faltando. Isso sem contabilizar que este superávit, vem dos últimos seis anos e o montante da dívida é somente do último ano.
Mas como na lei de Murphy ou nos nossos políticos, nada é tão ruim, que não possa piorar, em março, segundo relatório do IPEA, houve deterioração nas transações correntes por conta das remessas líquidas de lucros e dividendos. Em maio, o acumulado no ano já totalizava um déficit de US$15,6 bilhões. "O crescimento da remessa de lucros e dividendos ao exterior é reflexo, basicamente, da expansão da atividade econômica, do elevado estoque de capital estrangeiro investido no país e da taxa de câmbio".
Vamos observar a expressão: "capital estrangeiro investido no país". Do que se trata? Sem me estender em demasia, pois uma postagem em um blog, acredito, tem como função mais acender fogueiras e despertar discussões, fazendo pensar, do que efetivamente dar o caminho da pedras, temos por exemplo, recentes notícias do maior volume na Bolsa de São Paulo, capital este a ser investido ou especulado? O investidor estrangeiro (ou não) deve estar no mesmo diapasão dos projetos nacionais de desenvolvimento, ganhando seu quinhão, justo, porém com soberania do Estado na administração financeira nacional. Sempre será interessante a liberalização de investimentos "diretos" em instalação de equipamentos, além de haver, claro, transferência de tecnologia, mas sabemos da dificuldade de escapar à inata volatilidade dos capitais financeiros meramente especulativos, muito difícil, escapar e ao mesmo tempo não engessar o mercado de capitais. O Brasil tenta, via manipulação da IOF, baixando-o para incentivar o influxo, ou elevando-o, para conter a fuga de capitais, porém, o excesso de burocracia acaba também espantando os desejáveis investimentos diretos. Mas olhando para o próprio umbigo e para quem paga o pato, como considerar justo que o sistema financeiro cobre taxas médias de juros de 80% a.a. para pessoas físicas e 48% a.a. para pessoas jurídicas quando a expectativa de inflação do próprio sistema para os doze meses seguintes encontra-se abaixo dos 6%? Como esperar a senda justa, quando reduzidíssima minoria responde pela maioria da riqueza nacional e controla os caminhos para esta (riqueza), tanto por meio político como econômico?

2 comentários:

Anônimo disse...

Ao terminar de ler seu texto, fiquei dizendo a mim mesma: por menos que vc goste do tema (e gosto pouquissimo) vc precisa se interessar por ele, já que do seu bolso saem alguns parcos mas significativos (pra mim, claro) reais que engrossam o montante dos ganhos dos banqueiros. Tudo bem, sei disso. Mas acho que sou extramemente emburrecida para estes assuntos, pq não consigo encontrar uma lógica para este "nada é tão ruim, que não possa piorar" ou na falta de ação dos governados (nós).
Enfim, meu amigo economista, minha matemática é tão elementar que não me permite entrar nos meandros desta complicada equação!
Mas beijar eu sei, tá? rs... Então te beijo!!!

RENATA CORDEIRO disse...

Renato,
ainda não tenho forças que me permitam emitir um julgamento. Não deixe de ir ao meu Blog pois estou comemorando o fato de ter engordado 1 quilo, estou com 38, fiz um post especial. Conto com a sua presença~:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
não há ponto depois de www
Um beijo,
Renata
Por favor, vá, vai fazer-me bem