domingo, 18 de abril de 2010

Desenvolvimento X Crescimento

Não poderá haver desenvolvimento sem crescimento, porém, haverá casos inversos, de crescimento sem desenvolvimento? Na resposta de Celso Furtado: “O desenvolvimento compreende a idéia de crescimento, superando-a”. Assim colocado, fica óbvia a maior complexidade do desenvolvimento em relação ao “puro” crescimento econômico.

Com razão, alguns colocam que na realidade dificilmente haverá crescimento, sem ser acompanhado de desenvolvimento, que seria desnecessária a diferenciação, mas a questão é: será que ambos são sempre na mesma proporção?

A “teoria do crescimento econômico” mostra como ocorre o crescimento de renda per-capita a partir de um número mais limitado e formalizado de variáveis, tenta-se compreender este dito crescimento via “modelos” e embora seja seminal o Keynesiano, temos também o “simples” de Solow, onde, porém, críticos destacam sua fragilidade, que antes de ser uma robusta construção teórica, seria por demais insipiente ao confrontado com a realidade, como um castelo de cartas, termo utilizado pelo prof. Simonsen, ex-ministro da fazenda nos governos militares, ao referir-se a modelos sem força teórica e matemática.

De fato, o desenvolvimento econômico implica mudanças estruturais, culturais e institucionais, visando diretamente atender o “bem-estar” da sociedade moderna e indiretamente buscando como objetivos: segurança, liberdade, justiça social e proteção ao meio ambiente.

O desenvolvimento econômico implica aumento de renda per capita (o crescimento em si), mas também melhoria no padrão de vida, este último ponto, de mais complexa mensuração, onde podemos utilizar a comparação de diferentes níveis de desenvolvimento entre os países, índice de Gini, ou a formulação de Amartya Sem, o índice de desenvolvimento humano.

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O desenvolvimento que interessa não é somente o de curto prazo, que pode, por exemplo, ocorrer quando de uma alta súbita dos preços da commmodities, mas da capacidade de manter este crescimento e transformá-lo em desenvolvimento, ao colocar a riqueza em benefício para toda a população.

Os países que mais crescem apresentam, em média, características comuns, como a abertura, não somente aos mercados, mas às idéias, tecnologias e recursos disponíveis globalmente. Outro fator são os investimentos, pois nenhum país consegue crescer sem altas taxas de poupança, com recursos sendo obtidos tanto no mercado internacional, como no mais importante, a poupança doméstica.

Os governos devem trabalhar assim, pelo fortalecimento dos mercados, fazendo as reformas institucionais que sejam necessárias, porém, compreender a sinergia, que não existe mercado forte, sem um governo também forte.

Para que as mudanças possam ser implementadas, são necessárias a capacidade de liderança política e a legitimidade dos governos, os quais sabem da importância de vários fatores, mas via de regra parece não se importarem (aos olhos do povo), mas quando se importam (ou acertam nas decisões?) as mudanças acontecem. São esses fatores: cuidar da educação, da pobreza, do meio ambiente e da infra-estrutura de comunicação e transportes. Mas para plena realização de aos olhos de uns, utópicas metas, os governos precisam ser honestos, tecnicamente competentes e capazes de desenvolver políticas de longo prazo, de forma pragmática, que possam ir além dos ciclos eleitorais.

Michal Kalecki, com sua teoria denominada “Ciclo Político”, observa que existe uma gangorra de interesses e de manipulação macroeconômica, em função de eleição e reeleição. Podem-se apontar muitos exemplos nacionais, vide Plano Cruzado, FHC II e recentemente o PAC.


"...Talvez Fernando Pessoa lhe responda, como outras vezes, Você bem sabe que eu não tenho princípios, hoje defendo uma coisa, amanha outra, não creio no que defendo hoje, nem amanhã terei fé no que defenderei..." (Saramago).


O país que pleiteia o desenvolvimento, não pode tampouco ser refém de países já desenvolvidos, que utilizando termo do economista Frederich List, “chutam a escada”, ao insistir para que países em desenvolvimento adotem políticas e instituições “diferentes” das que eles adotaram para se desenvolver.


Continua com: Desenvolvimento Sustentável


O desenho acima é ilustração da capa do livro: Desenvolvimento: Includente, Sustentável, Sustentado de Ignacy Sach, que ainda não li, mas provavelmente trata do mesmo tema.



Um comentário:

Jens disse...

"Não existe mercado forte, sem um governo também forte". Cuidado, Renato, os neoliberais, defensores do "estado mínimo", estão rosnando.

Um abraço.