domingo, 10 de julho de 2011

Algo sobre Monopólios e Crises

Em recente postagem do Professor Toni, na qual ele encerrava com quatro perguntas, comentei algo (um pouco) do que escrevo abaixo, sobre a dicotomia entre monopólios e livre concorrência. Engrossei um pouco o caldo e faço minha própria postagem. Vamos lá:

Com quem (ou o que) se preocupa o capitalismo? Seria com os consumidores (da primeira pergunta)? Com os trabalhadores (da segunda)? Com o equilíbrio do mercado (da terceira)? Com o dinheiro público (da quarta)? Respondo, com auxílio luxuoso do “Mouro”, que observou ser a passagem do capitalismo competitivo ao monopólio (na verdade ele anteviu, já que em sua época não havia este) apenas uma forma do sistema retornar ao seu equilíbrio (dele, sistema – ou seja, apesar da “forma”, o sistema é o mesmo, seja livre concorrência ou monopólio), perdido em eventual crise, isto é, do modo pelo qual se livra do excesso de capital, existente. Sim! Neste caso excesso atrapalha e sempre haverá uma nova forma de se estabelecer um novo ciclo de valorização deste (capital).

Em resumo, as crises também acabam sempre levando o sistema a criação de monopólios!

As crises sistêmicas não são uma “falha” de mercado e sim é o modo pelo qual o mercado funciona. Este brilhante insight é de Schumpeter, que junto com Keynes, completa minha santíssima trindade.

Quando se torna insuficiente a poupança gerada pelo fluxo circular da economia, há a necessidade irrefutável de se recorrer ao crédito para fornecimento dos recursos demandados pelo empresário (na abordagem de Schumpeter, o “empreendedor”), via capitalista, via de regra, os bancos, porém, a maximização irrestrita dos lucros (possíveis ou não – por que não dizer ganância?) via alavancagem irresponsável, acaba sempre criando um monstro, ao qual damos o nome de crise. Nenhuma expansão de crédito dura para sempre, certamente diria Minsky.

Marx também tem sua abordagem quando coloca que a própria competição, vai levar a destruição dos mais fracos em favor dos mais fortes, assim criando naturalmente uma situação monopolística.

Por quê? Por conta da fragilidade da alavancagem! Se uma empresa com capital de 10 milhões toma emprestado 1 milhão, não para capital de giro (pois o valor seria elevado), mas para investimento, porém, a mesma não consegue determinado retorno que pague este 1 milhão adicional, tendo um prejuízo de 10% sobre seu capital (por causa de uma recessão, por exemplo), a empresa estará perdendo 20% do seu capital (1 milhão de prejuízo + 1 milhão que não conseguiu “realizar”). Se a empresa, para piorar a situação, fizer “apostas” erradas no mercado financeiro (como a Sadia, por exemplo), acaba quebrando e sendo absorvida pela concorrente.

Olhando para o Brasil atual, temos cerca de 70% do consumo concentrado em 10 empresas “gigantes”, quando até mesmo O Globo não consegue mascarar, via a reportagem de hoje, no seu caderno de economia (infelizmente menos lido que o da TV – clique no link).

Temos (eles e não nós): AmBev, BRF-Brasil Foods, Coca-Cola, Hypermarcas, JBS, Kimberly-Clark, Nestlé, Procter&Gamble, Reckitt Benckiser e Unilever.

Não reconhece os nomes? Que tal estes: Omo, Kibon, Seda, Lux, Hellmann's, Arisco e Knorr, algumas “marcas” somente da Unilever, presente em 86% dos lares tupiniquins. Que tal Sadia, Perdigão e Resende, marcas da BRF-Brasil Foods, responsáveis por 90% do salame e outros quitutes que nos entram goela abaixo, conhece?

No meio acadêmico, onde a teoria da livre concorrência ou concorrência perfeita, na qual se baseia os economistas clássicos, é ótima para introduzir o aluno na matéria, mas não corresponde ao mundo real, em decorrência do irrealismo de suas hipóteses (paro por aqui para não me alongar mais no economês), porém, o ideal é o inimigo do bom e o monopólio (em teoria) é a visão do inferno para um mercado livre (para quem não o tem, maioria), sendo que ninguém em sã consciência acredita que ele possa ser corrigido ou controlado pelo governo, senão, obviamente não haveria o monopólio, pois bastaria ao governo somente encorajar a competição e o próprio governo abster-se de criar seus próprios.

Como vemos, ainda existe muita garrafa para ser vendida...

4 comentários:

Arkdoken disse...

Li tudo. Achei ótimo. Na forma e no conteúdo. Infelizmente não tenho competência pra comentar. Obrigado por melhorar esta porcaria de Rede, tão decantada mas tão boba que a gente tem de garimpar pra encontrar algo inteligente

Renato Couto disse...

Ark, agradeço, tanto eu como o ego...

Prof Toni disse...

Estou quase entendendo... abraços.

Arkdoken disse...

Então, se entendi, não é o caso de os governos, que supostamente devem defender os interesses da maioria, impedirem os monopólios, ao invés de os apoiarem? Bom, é que os monopólios é que ditam as regras, né e, se o Governo não aceitar, dança! Allende, Goulart, Arbenz que o digam...